Não há como delinear uma data de origem do grupo de artesãos e artesãs do nosso povo, o artesanato tem um espaço importante na nossa cultura, tendo utilidade tanto nos ritos quanto no cotidiano das comunidades. O artesanato, desde a coleta das matérias primas, passando pela produção, até a utilização dos artefatos, sejam eles de uso cotidiano/prático ou ritual, funde-se com nossas tradições e compõe parte importante de nossos conhecimentos tradicionais. Toda a comunidade participa de algum modo da produção ou do uso do artesanato, porém, nem todas as peças são feitas por todas as pessoas, algumas são produzidas apenas por mulheres, outras apenas por homens, algumas em parceria.

Uma peça como o xy, o cinto do corredor, feito com tucum (rõr xê), sementes de tiriricas (acà) ou miçangas (kẽnre) e cabaças (cukõnre), é utilizada durante as tradicionais corridas de tora, sendo usadas, todavia, apenas pelos corredores de grandes toras, que tiveram a honra de ganhar esse cinto de um cantor; é também utilizada nas cantorias dos ritos de morte e passagem dos mortos, nas cantigas da Festa da Batata e outras ligadas às caçadas.

Já o maco, é uma bolsa feita da embira do buriti pelos homens com utilidade prática para levar os objetos necessários para a caçada, como munição, remédios, fogo, e pelos pajés, para transportar remédios e objetos necessários para seu feitio. Há também o maco feito com linhas grossas do tucum.

As esteiras, ou caty, produzidas exclusivamente pelos homens, são trançadas com a embira do buriti e tem tanto utilidade prática no cotidiano da aldeia, como ritual. Tradicionalmente usadas pelos novos casais, nos ritos de casamento e em diversas festas da nossa cultura, como o Kêtuwajê e o Pẽp Cahàc.

Os cofos, ou càhà, cujo corpo é produzido pelas mulheres e a alça pelos seus respectivos maridos ou parentes, são fundamentais no cotidiano das aldeias, utilizados na colheita de frutas, sementes e raízes e para o armazenamento de qualquer material ou alimentação.

Os colares, ou hõkrexêxà, e pulseiras, ou ipakà, feitos de linha de tucum ou nylon (fit xê), sementes de tiririca, cabeça de formiga (hômjĩre hy), pãmrehy(ver nome em português) e miçangas (kẽnre) são utilizados tanto no cotidiano, para enfeitar as mulheres, homens e crianças, quanto nas festas rituais.

Os instrumentos musicais são também parte importante da produção do artesanato e da performance cultural do nosso povo. As cabacinhas (cukõnre), que seriam nossas flautas, são produzidas e tocadas pelos homens, que as usam em festas para animar os cantores, cantoras e demais participantes, tirando os temas das próprias músicas cantadas nas festas. Além dessas, temos o apito (pyrijakà), feito pelos homens da casca do cajá, e a buzina (pàtwỳ), feito também pelos homens e da cabaça grande (cukõn), que animam as festas, caçadas e chegadas.


As ferramentas empregadas na produção dos artesanatos são muito simples e rudimentares. As técnicas produtivas fazem parte da nossa tradição e são apreendidas ao longo da vida durante o processo educacional. Recentemente após um achado arqueológico de um colar de 6 voltas de tiririca com cerca de 8.000 anos, um estudo sobre a semente de tiririca mostra que o que permite a conservação da mesma e a técnica de processamento empregada pelos povos timbira.

As mulheres mais velhas (com idade entre 35 e 40 anos) vão para o brejo colher a tiririca na companhia de suas filhas e parentes mais novas,entretanto por ser uma folha cortante, as mais novas só observam a atuação das mais velhas. Ao chegar na aldeia é feito um longo processo de fervura, secagem ao sol, ralação e perfuração da semente. Tanto as sementes, quanto as folhas de embira, usadas no feitio do artesanato, são colhidas e tratadas manualmente, necessitando apenas de panela de chão e óleo para torragem das sementes.